A Tragédia dos Millennials
Por Fábio Kestenbaum
Muitos depositaram nos Millennials sua esperança de transição para uma economia de baixa emissão de carbono e menor disparidade de renda, orgulhosos de uma geração que enxergou no seu poder de consumo e investimento os meios para exigir que empresas contribuíssem para a solução dos desafios da sociedade e planeta, para além da sua responsabilidade perante acionistas, fazendo emergir o stakeholder capitalism.
Mas essa geração vem enfrentando desventuras em série, amargando crise após crise e, não bastasse 2008, os Millennials agora enfrentam a maior recessão global em décadas; a crise do Coronavirus. Endividados, sem poupança e com salário estagnados, correm o risco de ser menos ricos que seus pais, algo inédito na história moderna.
Ainda é muito cedo para saber até onde irão as repercussões da crise, mas já podemos prever que a quebra dos negócios, desemprego e consequente diminuição de renda, terão impactos profundos e de longo prazo. O pior é que essa geração é especialmente vulnerável, sem poupança e nenhum bem imóvel para refinanciar ou conseguir empréstimos, ainda ganham pouco e perderam inúmeros benefícios trabalhistas em comparação com as gerações anteriores.
O drama piora quando se olha o crescimento do custo de vida e, piora ainda mais em um país como o nosso, onde os serviços públicos são escassos e precários, realidade que requer desembolsos adicionais com transporte, moradia, educação, saúde etc. Sem alternativa, os Millennials contrairam dívidas, a maioria no cartão de crédito, e então, passaram a qualidade de devedores no país dos juros compostos, onde uma instituição financeira está legalmente autorizada a cobrar juros sobre juros sem qualquer pudor ou misericórdia.
O tsunami está formado.
De um lado, os Millennials têm agora a duríssima missão de subverter suas desventuras e azares. Do outro, os mais velhos assistem o flagelo da sua utopia, assimilando o choque de ver a geração que tinha tudo para ser, mas que dificilmente será. E se não for mesmo, perdemos todos, inclusive o planeta.