Como a Favo está usando a disrupção tecnológica na LatAm para impactar a vida de milhares de pessoas

Positive Ventures
3 min readOct 22, 2021

Gustavo Behring

A América Latina é a região mais desigual do planeta, segundo o Banco Mundial, e o Brasil é sem dúvida a sua maior proxy. Ao mesmo tempo que geramos mais de um trilhão de dólares no ano passado, 14 milhões de pessoas continuam desempregadas e 27 milhões vivem abaixo da linha da pobreza (CNN Brasil). Somado à instabilidade política, parece se formar um cenário de difícil navegação para o empreendedorismo. No entanto, a tecnologia e a sua penetração em massa vêm nos mostrando que a leitura deve ser justamente a oposta. Temos uma oportunidade única de inclusão econômica acontecendo agora.

Se olharmos para a digitalização no Brasil, chegamos em números impressionantes: 75% da população economicamente ativa possui acesso à internet, frente a 71% no México, 65% na China e 45% na Índia. Além disso, dessa mesma amostra, 68% possuem smartphone, dos quais 99% têm WhatsApp instalado.

No entanto, esse alcance não atinge todos os serviços digitais. No e-commerce, por exemplo, esse número ainda é baixo no Brasil: em 2019, apenas 5,8% das transações foram realizadas via lojas virtuais, frente a 28,2% na China. Porém, a pandemia nos forçou a mudar os hábitos e comprar online se tornou muito mais recorrente. Dessa forma, os 5,8% saltaram para 12,6% em apenas 5 meses. Agora, será que esse crescimento foi proporcional em todas as classes sociais e em todas as regiões do país?

A conclusão é que não. O Brasil ainda sofre com enormes gargalos logísticos, sejam eles: a dimensão continental do país; a dependência dos caminhões frente à outras formas de escoamento de produtos; e a grande desigualdade de infraestrutura entre as regiões do país, ou até mesmo entre regiões centrais e periféricas de uma mesma cidade.

Dessa forma, a intersecção entre revolução digital, desigualdade de acesso e desemprego, torna o Brasil a tempestade perfeita para o modelo de Community Group Buying.

O Community Group Buying é um modelo de distribuição de produtos e serviços para regiões de menor acesso, reduzindo custos e empoderando moradores de bairros/cidades periféricos, que atuam como empreendedores locais. Esse mercado, que já conta com unicórnios Chineses, Shihuituan (Market Cap.: +$1Bi) e Xingsheng Youxuan (Market Cap.: $8Bi), chegou ao Brasil no ano passado com a FAVO, startup que também possui operação no Peru, e foi fundada por Alejandro Ponce e Marina Proença.

A FAVO opera com centros de distribuição próprios e gestão de SKUs (começando por Groceries), e ativa sua rede de empreendedores, que montam suas lojas online e passam a vender para seus vizinhos. Os líderes Favo recebem as mercadorias em suas casas e são responsáveis pelo last-mile, obtendo em contrapartida uma comissão de vendas. O recurso nunca passa pelo empreendedor, que tampouco precisa dispor de investimento inicial ou capital de giro, ficando exclusivamente responsável por realizar a venda. O consumidor, por sua vez, economiza tempo e dinheiro e têm acesso a produtos de muita qualidade, sem precisar se deslocar. O custo para aquisição dos clientes finais cai significativamente, pois há forte influência do empreendedor local na aquisição dos consumidores, que são seus amigos e vizinhos. O mesmo ocorre com custo de logística, pois esse empreendedor agrega as demandas da sua micro-região em um só ponto de entrega da Favo.

Começando sua operação no início de 2020, a Favo já bateu números incríveis. São mais de 10 mil empreendedores na base e 700 mil pedidos só na Grande São Paulo. A geração de renda e o aumento no acesso faz com que a Favo possua uma base fiel de líderes, como podemos ver nos depoimentos no seu canal do YouTube.

Assim, como seus peers Chineses que levaram esse modelo para diversas cidades pequenas e médias na China, a Favo planeja nos próximos anos penetrar em vários outros municípios do Brasil, sendo São Paulo só o início. Além disso, há planos de expansão para o México e outros países da região, afinal são mais de 100 milhões de pessoas na América Latina buscando renda adicional e enfrentando desafios muito semelhantes aos do Brasil.

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A Bcorp investment management firm focused on impact tech and purpose driven entrepreneurship.